CUT aposta em plebiscito popular para pressionar Congresso por redução da jornada e taxação dos super-ricos

Classe trabalhadora se mobiliza para pressionar Congresso conservador por aprovação de pautas – Tânia Rêgo/Agência Brasil
Sérgio Antiqueira defende mobilização para avançar pautas travadas em Legislativo conservador, com lobby de empresários
O secretário de Relações do Trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Antiqueira, acredita que a mobilização popular será essencial para pressionar o Congresso Nacional a avançar em duas pautas prioritárias da classe trabalhadora: o fim da escala de trabalho 6 x 1, com redução da jornada sem corte salarial, e a taxação dos super-ricos, como parte do projeto que quer a isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que recebem até R$ 5 mil mensais.
As duas propostas serão tema do Plebiscito Popular 2025 convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com início previsto para julho. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta terça-feira (20), Antiqueira contou que o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, foi receptivo à proposta do plebiscito, apresentada em reunião nesta segunda (19). “Só o fato de ele ter agendado essa audiência já foi muito importante”, disse.
A consulta será realizada em todo o país por meio da articulação de sindicatos, movimentos sociais, estudantis, culturais e religiosos. A proposta é que o resultado, que será divulgado em 7 de setembro, no Grito dos Excluídos, sirva como ferramenta de pressão junto ao Executivo e, em especial, ao Congresso, formado por maioria conservadora, que pode travar as pautas.
Mobilização como caminho
Segundo Antiqueira, a fase atual da campanha está voltada à formação política dos voluntários e articulação com sindicatos e movimentos. A coleta de votos está prevista para ocorrer a partir do início de julho até 6 de setembro. O resultado será entregue ao governo federal e ao Congresso no dia seguinte, durante o Grito dos Excluídos.
“A proposta do plebiscito é justamente de que esses movimentos consigam falar com os trabalhadores, com as periferias, com as faculdades, as universidades, o ensino médio, os estudantes que estão nesses locais, para fazermos esse debate, a votação de aprovação [das pautas] e fazer com que isso seja um ponto de apoio e de mobilização na sociedade”, explica.
Para ele, o plebiscito tem potencial para “polarizar o debate na sociedade” e exigir posicionamentos claros de parlamentares sobre os interesses que defendem. “Quem está do lado do patrão, e quem está do lado do trabalhador?”, ilustra.
Antiqueira reforça que a iniciativa é uma forma de a população interferir nos rumos do país. “Se deixarmos só na mão do Congresso, sabemos o que pode acontecer: vão tentar tirar recursos do SUS [Sistema Único de Saúde], da educação, da Previdência… Isso a sociedade não pode permitir.”
Carga excessiva e precarização do trabalho
Antiqueira defende que o fim da escala 6×1, na qual o trabalhador tem apenas um dia de folga por semana, precisa vir acompanhado da redução da jornada semanal sem redução salarial. A pauta é histórica para a CUT e outras centrais sindicais e tem ganhado adesão crescente entre jovens e categorias mais precarizadas.
“Estamos há décadas tentando avançar nessa pauta. Já reduzimos de 48 para 44 horas semanais na Constituição de 1988, mas desde então está tudo travado”, lamenta. “Hoje, boa parte da juventude e de quem está em empregos precarizados sofre com essa escala desumana. Precisamos garantir tempo de descanso, lazer e convivência familiar”, defende.
Apesar de já haver projetos tramitando no Congresso, como o da deputada Erika Hilton (Psol-SP), em parceria com o vereador Rick Azevedo (Psol-RJ), do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), Antiqueira denuncia a resistência do setor empresarial e a conivência de parte dos parlamentares. “Mesmo deputados da extrema direita têm sido cobrados por suas bases, que querem saber de que lado eles estão: do trabalhador ou dos patrões.”
Na véspera do Dia Internacional do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou apoio à reivindicação, em pronunciamento divulgado nos canais oficiais do governo.
Justiça tributária e combate à desigualdade
A segunda proposta em debate é a taxação dos super-ricos. A medida prevê isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, redução gradual da alíquota para aqueles que recebem entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, e aumento progressivo para rendimentos acima de R$ 50 mil, com ênfase nos grandes patrimônios e dividendos milionários.
“Boa parte da população é favorável a que os ricos sejam taxados. O projeto não atinge o assalariado. A taxação mais alta só começa a fazer diferença real a partir de salários já milionários”, destaca.
Para o dirigente da CUT, o desafio está em dialogar com a população e romper a barreira da desinformação. “Tem muito mito e fake news sobre esse tema. Por isso, vamos formar multiplicadores e promotores do plebiscito que saibam explicar de forma simples e embasada o que está em jogo.”
Fonte: Brasil de Fato