População brasileira sobe no ranking da felicidade, apesar da sombra da desigualdade

Tomaz Silva/Agência Brasil
O aumento da renda per capita e apoio social foram os principais responsáveis pelo avanço do país em oito posições. Em 2022, final do governo antecessor, o país ficou em 49º lugar, a sua pior colocação
O Brasil avançou oito posições em 2024 em relação ao ano anterior, alcançando a 36ª colocação no ranking da felicidade divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU). A lista é resultado de uma parceria com o instituto Gallup e a Universidade de Oxford. A Finlândia manteve sua hegemonia no ranking dos países mais felizes do mundo, ocupando o primeiro lugar pelo oitavo ano consecutivo.
O ranking avalia diversos indicadores, como renda per capita, expectativa de vida saudável, suporte social, liberdade individual, generosidade e percepção de corrupção.
O Brasil superou vizinhos importantes. Ficou à frente da Argentina, que ocupa a 42ª posição, e do Chile, que despencou da 38ª para a 45ª colocação. O Uruguai lidera a região, posicionado em 29º lugar. Os Estados Unidos, embora à frente do Brasil na 24ª posição, registraram sua pior classificação desde 2012.
Os fatores que foram importantes para os indicadores para fazerem o Brasil subir oito casas foram o aumento da renda per capita e apoio social. Em contrapartida, houve pouca participação dos critérios de generosidade e percepção de corrupção da população. Somente para lembrar, em 2022, final do governo antecessor, o país havia registrado sua pior posição no ranking, caindo para 49º lugar.
O posicionamento do Brasil em 36º lugar evidencia uma recuperação na percepção de bem-estar da população. No entanto, sob uma perspectiva política e social, é fundamental analisar o que isso significa para a população, em especial às trabalhadoras e aos trabalhadores brasileiros.
O que os números não mostram
A melhora da colocação do Brasil pode indicar um alívio em relação aos anos de crise sanitária e econômica durante pandemia da Covid-19. No entanto, a realidade do trabalhador brasileiro ainda é marcada pela precarização do emprego, baixos salários e desigualdade social. Os países mais bem colocados, como a Finlândia e a Dinamarca, se destacam justamente por oferecerem um forte suporte social, condições de trabalho dignas e políticas públicas eficazes.
O Brasil, por outro lado, tem uma alta taxa de informalidade e uma estrutura de proteção ao trabalhador enfraquecida por sucessivas reformas que flexibilizaram direitos, como a Trabalhista, em 2017, no governo de Michel Temer (MDB-SP), que retirou mais de 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e da Previdência, de Jair Bolsonaro (PL-RJ), que aumentou o tempo de contribuição e reduziu o valor do benefício.
Convivência e felicidade
O relatório aponta que a felicidade está ligada a interações sociais e ao senso de comunidade. No Brasil, a cultura de coletividade se reflete na resistência e organização dos trabalhadores em sindicatos e movimentos sociais. No entanto, longas jornadas de trabalho, múltiplos empregos para complementar a renda e a falta de segurança no emprego comprometem essa convivência. Enquanto na Finlândia o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é um fator-chave da felicidade. No Brasil, a sobrecarga e o esgotamento são uma realidade para milhões de trabalhadores.
Comparação social e desigualdade
Outro fator mencionado no estudo é a comparação social. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, o que impacta diretamente a percepção de bem-estar. Enquanto uma pequena elite acumula riqueza, a maioria da população enfrenta dificuldades para garantir direitos básicos, como moradia, saúde e educação. Isso se reflete na percepção de corrupção e na falta de confiança nas instituições.
Generosidade e da solidariedade
Apesar das adversidades, o estudo destaca que atos de generosidade aumentam a felicidade. No Brasil, a solidariedade é um elemento forte, especialmente em comunidades periféricas, onde redes de apoio se tornam fundamentais para enfrentar dificuldades. No entanto, a necessidade de assistência mútua muitas vezes surge da ausência do Estado em garantir direitos básicos aos trabalhadores.
No mundo
A composição da lista revela um cenário estável no topo, dominado pelos países nórdicos. Dinamarca, Islândia e Suécia aparecem logo após a Finlândia. A Costa Rica se destaca como o primeiro país latino-americano entre os dez primeiros, ficando em sexto lugar.
Especialistas destacam que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, somado a políticas públicas robustas de bem-estar, explica o sucesso da Finlândia. Outro dado relevante veio à tona neste ano: compartilhar refeições com outras pessoas influencia diretamente a sensação de felicidade global. Morar em lares com quatro ou cinco pessoas também foi associado a maior bem-estar, especialmente no México e na Europa.
FONTE: CUT