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A eleição de 2022 será marcada pelo medo?

22 de julho de 2022

Karla Galiza tem medo, mas não deixa de manifestar seu voto para 2022 – Print do VT

Com o crescimento de crimes motivados por discordâncias políticas, ouvimos a opinião de quem sente medo de se manifestar

Quem encontra com Carla Galiza andando pela rua ou passa na frente do portão de sua casa, não tem dúvida de quem ela não apoia nessas eleições. E a engenheira agrônoma faz questão de usar seus adereços e exercer o direito de manifestar-se politicamente: “Nós somos pessoas progressistas, a gente entende que política partidária tem divergências e vai ter sempre, e é saudável ter divergências, é saudável ter pensamentos contrários, mas desde que isso seja através do diálogo construindo esse espaço político’’, defende.  

Mas mesmo fazendo parte dos que votarão no mesmo partido a frente das pesquisas eleitorais a presidência até o momento, muita gente tem se sentido insegura para fazer uso dos seus direitos democráticos do livre manifestar-se, principalmente, pela onda de violência e hostilidade que vem se instaurando no país: “No meu ponto de vista, hoje a gente tem um ambiente muito tenso de medo, se instaurou um medo na sociedade brasileira a partir dessa imersão, desse surgimento, desse fortalecimento dos fascistas, que está muito na figura do governo que a gente está hoje. Com esses 3 anos de governo Bolsonaro, esse medo só ampliou”, comenta Galiza. 

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Violência que muitas vezes não fica só nas entrelinhas, aumentando o clima de tensão e medo no país. “Esse sentimento está disseminado, esse sentimento está aí, vivo! E a gente tem razão de ter medo”, enfatiza a jornalista e professora universitária Kamila Bossato, que conta ainda como a filha passou por uma situação de hostilidade por conta de um adesivo: “Eu tinha colocado um adesivo no meu carro, um adesivo de Fora Bolsonaro, em vermelho. Meu carro é partilhado por outros familiares, e a minha filha tinha saído com o carro, era a primeira vez que ela usava o carro com o adesivo. No momento em que ela estava no carro, sentiu uma pancada, alguém deu um murro no vidro do carro e gritou, ‘é Bolsonaro’. Ela ficou apavorada, começou a ficar desesperada, tirou o adesivo do carro e brigou comigo – ‘como assim você me colocou em risco? ’, [ela perguntou]. Mas colocar uma manifestação política, você se manifestar politicamente é se colocar em risco, por quê? Por causa disso, porque a gente está vivendo um momento de exceção, um momento antidemocrático”, pontua. 

Tessíe Reis vende camisetas com a irmã e conta que foi censurada por um shopping da capital cearense por vender blusas partidárias: “aconteceu o fato da pior forma possível. O shopping não teve o cuidado da comunicação. Foi assim: “retire os produtos, não pode nada político aqui, nada vermelho”. Gente, quando eles falam “nada vermelho”, é um recado direto pra quem é de esquerda, pra quem é do campo democrático da esquerda”. 

Para o psicólogo Felipe Meira, o medo traz consequências que ultrapassam o viés político e afetam diretamente a saúde mental, que neste caso é coletiva: “Se eu não consigo expressar as minhas opções, as minhas opiniões políticas significa que eu não estou conseguindo expressar qual é a melhor forma que eu quero viver em sociedade. A gente sabe que o medo é importante na sobrevivência, a gente consegue sair de situações dificílimas quando estamos com medo, porém quando esse medo se torna arrastado, quando esse medo se torna prolongado, a gente tem um sério problema de saúde mental. Quando você passa a conviver com  medo, o medo traz ansiedade, traz paralisia, traz desespero, traz angustia, e você começa a ter esse sentimento de forma recorrente, isso vai causar graves problemas na saúde mental’’. 

Edição: Camila Garcia

Fonte: Brasil de Fato

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