A GRANDE TRAGÉDIA DO COVID-19 NOS AGUARDA

Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia.
O empenho de Bolsonaro para sabotar diariamente a luta nacional contra o novo coronavírus apenas confirma a necessidade de encontrar uma saída que interessa a maioria dos brasileiros e brasileiras. Em março de 2020restam poucas dúvidas sobre a necessidade do país preservar o confinamento horizontal para minimizar — na medida do possível — o sofrimento prometido pelo covid-19. A escancarada desigualdade brasileira, herança de um passado que não é preciso recordar aqui, nos trouxe uma tarefa suplementar, porém. Será Indispensável fazer um esforço para incluir a imensa parcela da população –metade ou até mais — prejudicada por uma história de injustiça e exclusão que não lhe permitiu formar renda nem ter meios próprios para proteger-se nessa hora terrível, em que até ricos e poderosos se sabem ameaçados. Não se trata de uma questão menor. Aqui, toda omissão implicará no risco de transformar o confinamento num desastre histórico, onde a parcela bem nascida tentará mais uma vez conviver cinicamente como massacre de outra parcela — imaginando que a parte inferiorizada irá se portar como gado a caminho do matadouro. Um bom resumo da situação encontra-se nas linhas seguintes, que descrevem a atitude daqueles que, na cúpula do Estado e das grandes fortunas, seguem trabalhando pela fórmula dos mais ricos que tentam ficar cada vez mais ricos, em qualquer circunstância: “Mesmo com excesso de recursos no sistema bancário, as instituições não querem correr riscos e estão elevando suas taxas, especialmente nas operações de curto prazo(capital de giro). Ou seja: o credito irá fundamentalmente para empresas de grande porte, justamente as que são capazes de suportar condições econômicas hostis.”(Julio Wislak, Folha, 29/3/2020). Estamos falando de vidas humanas — esse valor insubstituível — mas não apenas biológico. No aqui e agora, é impossível enxergar o destino que espera cada país — e mesmo cada indivíduo — naquele novo momento histórico, sem data marcada, quando imaginamos que a pandemia terá terminado. Mas é possível, desde já, entender um ponto. Ou nosso país sairá unificado e solidário de uma tragédia dessa profundidade. Ou não sairá. O esforço que for feito hoje em cada nação para proteger o conjunto da população representará o passo decisivo na preservação de sua riqueza, sua cultura e, muito provavelmente, sua soberania. A possibilidade de futuro, enfim. Sabemos que os fatos históricos não se repetem. Mas aprendemos uma lição duradoura. O caminho que homens e mulheres de um país escolhem para resolver perigos e ameaças de cada momento costuma definir o país em que poderão viver no futuro. Alguma dúvida?
FOTO: Daniel Marenco