A urgência de regulamentar a Inteligência Artificial

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Mazzucato alerta que a IA não é apenas um “setor”, mas uma tecnologia com impacto transversal em todos os setores econômicos
Fonte: Jornal GGN
Artigo recente de Mariana Mazzucato faz um chamado urgente para que governos e sociedade civil atuem de forma proativa, regulatória e estratégica diante da ascensão da Inteligência Artificial. Ela retoma o conceito de “feudalismo digital” para descrever a lógica de concentração de poder, renda e controle que as grandes plataformas digitais vêm impondo à economia e à sociedade — e agora potencializam com a IA.
Desafia o discurso tecnocrático que trata a IA como “inevitável” e neutra. Conecta tecnologia, poder de mercado e falência do Estado e propõe uma agenda baseada em inovação pública, transparência e governança democrática da tecnologia.
Com a ajuda da IA, vamos resumir as conclusões de Mazzucato:
1. A IA como tecnologia de uso geral e vetor de poder econômico
- Mazzucato alerta que a IA não é apenas um “setor”, mas uma tecnologia com impacto transversal em todos os setores econômicos, com potencial para criar grande valor público ou agravar desigualdades.
- A infraestrutura necessária para treinar e operar modelos de IA — computação em nuvem, dados, energia — está concentrada nas mãos de grandes plataformas como Amazon, Google e Microsoft, o que reforça sua posição como gatekeepers.
2. O “Feudalismo Digital” e as rendas algorítmicas
- O termo “feudalismo digital” se refere a um sistema onde as grandes plataformas extraem valor em vez de criá-lo — transformando usuários, dados e atenção em rendas privadas.
- Ela introduz o conceito de rendas algorítmicas: lucros obtidos pela manipulação opaca dos algoritmos que regulam o acesso à informação, publicidade e engajamento digital.
- O exemplo da “enshittificação” (termo de Cory Doctorow) ilustra como as plataformas se deterioram ao priorizar cada vez mais a monetização em detrimento da experiência do usuário.
3. O papel do Estado e da inovação pública
- Mazzucato reitera sua tese clássica de que as inovações disruptivas foram, muitas vezes, possibilitadas por investimentos públicos, como internet, GPS, touchscreen e assistentes virtuais.
- Hoje, as big techs exploram essas tecnologias e sugam talentos e recursos do setor público, enquanto fazem lobby contra subsídios e impostos (caso do “Departamento de Eficiência Governamental” de Elon Musk).
4. Propostas de intervenção pública
- Regulação dinâmica e adaptativa da IA: não esperar os danos aparecerem, mas intervir desde já.
- Transparência algorítmica obrigatória: forçar as plataformas a divulgar como operam seus algoritmos, incluindo o uso de dados, critérios de moderação, publicidade e impactos sociais.
- Investimento em capacidades estatais: reverter a dependência do setor público em consultorias privadas, aumentando a expertise interna.
- Infraestruturas digitais públicas: como o projeto EuroStack, uma alternativa soberana europeia envolvendo nuvem, chips e dados, governada como bem público.
5. Considerações geopolíticas e ambientais
- Mazzucato destaca que a corrida global pela IA não deve ser pensada apenas como uma competição entre EUA e China, mas como uma chance para a Europa liderar uma visão alternativa baseada no interesse coletivo.
- Aponta os riscos ambientais do crescimento explosivo do consumo de energia por parte da IA e sugere que soluções como a da DeepSeek chinesa (com menor consumo energético) mostram que outras formas de inovação são viáveis.
6. Diagnóstico e horizonte estratégico
- A autora conclui que o dilema não é entre “regulamentar ou inovar”, mas sobre como moldar os mercados para entregar valor público.
- Se não houver ação, a IA será capturada pelos mesmos mecanismos extrativistas que já dominam o capitalismo de plataforma.
- A Cúpula de Paris sobre IA é apresentada como uma oportunidade crítica para traçar esse novo caminho.