Professor da UFABC, Sergio Amadeu afirma que o país precisa investir em inteligência artificial coletiva

A startup chinesa DeepSeek movimentou o mercado de Inteligência Artificial (IA) ao lançar um modelo avançado por um custo reduzido. O impacto foi imediato: ações de gigantes como Nvidia e Microsoft despencaram fazendo com que suas ações perdessem valor em torno de R$ 1 trilhão, após investidores reagirem com cautela e especialistas passaram a questionar a viabilidade do atual boom da IA no Vale do Silício, região nos Estados Unidos em que se estabeleceram as gigantes de tecnologia.

Para atingir esse feito, a DeepSeek apostou no código aberto para competir com a norte-americana OpenAI, uma das líderes do setor. Seu modelo, lançado em 10 de janeiro, ultrapassou o ChatGPT como o mais bem avaliado da App Store.

O boom da DeepSeek, desenvolvida com um orçamento muito menor do que o das concorrentes, reacendeu o debate sobre inovação, soberania digital e o impacto da IA no mercado de trabalho. No Brasil, especialistas alertam para a necessidade de desenvolver infraestrutura própria e garantir que dados estratégicos permaneçam no país.

Segundo o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sérgio Amadeu, esse modelo pode ser o caminho para romper a hegemonia das big techs americanas.

“Esse código aberto mostra que é possível desafiar as grandes empresas e, mais do que isso, que podemos investir na inteligência artificial coletiva”, afirmou o professor. Ele defende que o Brasil construa uma infraestrutura soberana para IA. “Os dados são um insumo fundamental para esses modelos e precisam ficar aqui, em vez de serem entregues para Amazon, Microsoft e outras big techs”, ressalta.

Sérgio Amadeu reforça a necessidade de os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros incluam a IA em suas pautas. “Os sindicatos precisam debater os efeitos e implicações da inteligência artificial. Se não fizerem isso agora, quando perceberem os impactos, já será tarde demais”, alerta.

Desafios da Inteligência Artificial

Os sistemas de inteligência artificial analisam grandes volumes de dados e identificam padrões para classificar informações. O principal objetivo é aumentar a produtividade em diversos setores, como indústria e serviços financeiros. No entanto, se esse avanço não for acompanhado da criação de novas atividades, o impacto pode ser a perda de empregos ao redor do mundo.

O crescimento da startup chinesa não apenas desafia os líderes atuais, mas também redefine as expectativas para o setor e o avanço da DeepSeek levanta dúvidas sobre o futuro da IA. Algumas empresas podem adotar suas estratégias e reduzir custos de desenvolvimento, mas ainda não está claro se isso levará à expansão dos modelos ou se o mercado superestimou a capacidade dos “Datas Centers”, ambiente projetado para reunir servidores, armazenar informações, processar dados, gerenciar ativos de rede, entre outras atividades.

A DeepSeek

Apesar das restrições dos Estados Unidos à exportação de chips avançados, a DeepSeek treinou seu modelo com 2 mil processadores Nvidia H800, menos potentes que os topo de linha. O custo total foi de US$ 5,6 milhões (R$ 33 milhões), cerca de 90% inferior ao gasto pela OpenAI.

O sucesso impulsionou Liang Wenfeng, fundador da DeepSeek, que se tornou uma das figuras mais influentes da China no setor. No início do mês, ele foi o único executivo de IA convidado para uma reunião com o premiê chinês Li Qiang.

DeepSeek x ChatGPT: diferenças e aplicações

Embora ambos sejam modelos de linguagem, apresentam diferenças marcantes:

• Base tecnológica: O ChatGPT, da OpenAI, prevê palavras em uma sequência de texto com base em aprendizado de máquina. O DeepSeek, por outro lado, foca na eficiência e no processamento de grandes volumes de dados técnicos, tornando-se mais preciso em áreas como ciência e tecnologia.
• Capacidade de processamento: O ChatGPT é versátil e se adapta a diferentes contextos, como conversas informais e criação de textos literários. Já o DeepSeek se destaca em consultas complexas e ambientes acadêmicos.
• Precisão e segurança: ambospossuem mecanismos para minimizar erros e vieses. O ChatGPT usa filtros para evitar conteúdos inadequados, enquanto o DeepSeek adota validação cruzada para garantir maior precisão factual.
• Aplicações e usabilidade: O ChatGPT está integrado a diversas plataformas e é amplamente utilizado por indivíduos e empresas. O DeepSeek, por sua vez, tem foco em nichos específicos, como tecnologia, finanças e universidades.
• Acesso e custos: O DeepSeek é totalmente gratuito, enquanto o ChatGPT oferece planos pagos para funcionalidades avançadas, embora disponibilize uma versão básica sem custo.

FONTE: CUT