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IA auxilia médicos e detecta violência contra mulher 92 dias antes de caso se agravar

24 de dezembro de 2024

Créditos: Freepik

Em projeto pioneiro desenvolvido pelo SUS em Recife, ferramenta lê prontuários e revela sinais de possíveis casos de violência

Pesquisadores de Recife desenvolveram uma nova ferramenta com Inteligência Artificial (IA) capaz de ler prontuários médicos e detectar casos de violência contra a mulher 92 dias antes de agressões se agravarem, podendo levar à morte da vítima.

O estudo pioneiro foi desenvolvido pela organização internacional de saúde pública Vital Strategies, em parceria com a FrameNet Brasil, laboratório de linguística computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ao todo, os pesquisadores analisaram registros médicos de 13 mil mulheres vítimas de violência no município no período de dez anos.

Os resultados mostraram que mulheres vítimas de violência mudam os padrões de visitas aos centros de saúde 92 dias antes dos casos de agressão se intensificarem ou se resultarem até mesmo em feminicídio. Os dados revelaram que as mulheres vítimas de violência começam a buscar mais atendimento e costumam mudar de Unidade Básica de Saúde (USB) sempre que as agressões ficam mais intensas, como forma de evitar que a violência seja identificada. Elas também reclamam mais de problemas relacionados à saúde mental.

O estudo utilizou análise semântica e a ajuda da Inteligência Artificial para cruzar informações do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sisan), órgão gerenciado pelo Ministério da Saúde, com dados de prontuários eletrônicos de mulheres atendidas pela atenção primária à saúde com o objetivo de identificar sinais precoces de violência.

“A gente sabe que a violência contra a mulher acontece em um ciclo que vai se agravando e que é a atenção básica que atende essas mulheres de forma rotineira. Então, a gente precisa entender o que acontece na atenção básica em relação à violência”, explica a pesquisadora Sofia Reinach, diretora adjunta do Programa de Prevenção de Violências da Vital Strategies, à Folha de S. Paulo.

Estudo comparativo
Já Tiago Torrent, coordenador do FrameNet Brasi, destaca que o estudo comparou mulheres vítimas de violência com mulheres que não sofrem agressões e constatou que, entre o último grupo, quadros de doenças como diabetes ou hipertensão foram os principais motivos que as levaram ao atendimento médico.

“Quando a gente olha para o prontuário das vítimas de violência, essas doenças estão, em média, três vezes menos frequentes. Medicamentos para o controle de diabetes e hipertensão também são menos prescritos para essas mulheres”, diz Torrent.

“E por que isso acontece? “Não tem razão alguma para supor que essas mulheres tenham menos doenças crônicas. Ocorre que elas estão buscando ajuda por outro motivo [a violência], e as outras doenças estão sumindo dos prontuários. Isso também é grave”, explica.

O próximo passo do estudo consiste na criação de um painel com o perfil de todas as mulheres para identificar informações como em quais bairros de Recife as vítimas de violência não estão sendo identificadas. Os pesquisadores informaram que cerca de 460 dos 3 mil profissionais na atenção básica já foram treinados com esse objetivo.

FONTE: REVISTA FÓRUM

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