Brasil firma parceria com empresa de satélites chinesa, concorrente da Starlink
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e comitiva da China. | Foto: Divulgação/ Ministério da Comunicação
Memorando de entendimento com a SpaceSail foi assinado durante visita de Xi Jinping ao Brasil
O governo Lula ( PT ) assinou, nesta terça-feira (19), um acordo com a empresa chinesa de satélites SpaceSail que prevê uma colaboração com a administração pública para ampliar o acesso à internet em regiões remotas do Brasil. A parceria mira a liderança da Starlink, empresa do bilionário Elon Musk, no país.
O memorando de entendimento (MOU) firma a intenção de cooperação da fabricante de satélites com sede em Xangai com a empresa estatal Telecomunicações Brasileiras (Telebras). O documento foi celebrado pelo presidente da SpaceSail, Jason Jie Zheng, o presidente da Telebras, Frederico Siqueira Filho, e o Ministério de Comunicações do Brasil.
“A SpaceSail propõe investir na operação de um sistema de satélites terrestres LEO [de órbita baixa] para fornecer serviços que expandam a oferta de conectividade espacial do Brasil e contribuam para a redução da divisão digital, especialmente em regiões isoladas e territórios rurais menos favorecidos, com previsão de início de operações em 2026“, diz trecho do documento.
Apesar do avanço, ainda não há prazo para que a companhia comece a operar comercialmente no país. “A SpaceSail está avaliando o estabelecimento de uma subsidiária no Brasil para investir e operar comercialmente dentro do país”, prossegue o texto.
Segundo o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, a SpaceSail tem hoje 40 satélites em órbita. A previsão é que a empresa lance mais 648 nos próximos 14 meses. Até 2030, a chinesa promete que 15 mil satélites estarão orbitando o planeta. “Após esses 648 satélites já estarem no espaço, eles já teriam condições de começar a ofertar serviços no Brasil“, afirmou o ministro das Comunicações.
Siqueira Filho, por sua vez, afirmou que a Telebras irá colocar a sua infraestrutura à disposição da SpaceSail. “Fizemos o memorando de intenção justamente para iniciar as tratativas. A gente coloca a nossa infraestrutura à disposição justamente para ver se faz sentido para que eles possam operar no Brasil“, explicou.
Em discurso, Jie Zheng declarou que “memorando de entendimento com a Telebras não é apenas uma parceria, mas também um compromisso compartilhado para capacitar regiões carentes do Brasil”.
Entenda as negociações
As negociações em torno da parceria estavam em andamento há meses. Em outubro, Juscelino Filho visitou a sede da SpaceSail, durante viagem à China. Conforme as expectativas, o acordo foi firmado em meio à visita de Xi Jinping ao Brasil para a cúpula do G20, que ocorreu esta semana no Rio de Janeiro.
Vale ressaltar que SpaceSail ainda é nova no mercado, mas faz uso de equipamentos semelhantes à Starlink, que hoje é líder no Brasil e detém 45,9% do mercado de internet via satélite, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Em meio às relações complexas entre os Estados Unidos e a China, a tentativa do governo brasileiro de aproximação com os chineses pode gerar ruídos nos vínculos comerciais entre o Brasil e os EUA. Isso porque Elon Musk é aliado do presidente recém eleito Donald Trump e passará a ocupar o Departamento de Eficiência Governamental em 2025.
Além disso, a movimentação do Brasil ocorre em meio a um histórico de tensões com Elon Musk, aspirante do bolsonarismo. Este ano sua rede social, o X, foi bloqueada no país, em meio a uma série de descumprimentos de ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar do cenário, o governo nega que as negociações com os chineses sejam uma retaliação a Musk e à Starlink.
FONTE: JORNAL GGN